Inovação Pedagógica: uma abordagem que está mostrando como transformar a aprendizagem

Sim, é possível melhorar e transformar a educação básica brasileira no curto prazo. Este artigo vai contar um pouco sobre a história da Escola Hub, que está rompendo o paradigma do ensino tradicional, através da abordagem da inovação pedagógica.

A necessidade da mudança.

Parece haver um consenso entre educadores, gestores educacionais e, principalmente, famílias e estudantes de que o modelo educacional vigente, aquele que é apenas uma transmissão de conteúdos,  já não dá mais conta das demandas sociais atuais. Por esta razão, inovação em educação tornou-se um mantra no meio acadêmico e no mercado educacional. No entanto, ainda muito se fala, mas pouco se faz. No Brasil, é possível verificar algumas iniciativas de ruptura com a proposta tradicional, mas são escassas as iniciativas na educação básica.

Assim como diversos pesquisadores e pensadores da educação, nós também tínhamos convicção sobre os problemas do modelo pedagógico tradicional, centrado no professor, onde o estudante é visto como um receptor de conteúdos, que aprende ouvindo e prestando atenção somente. Para nós, reside neste modelo o problema central da educação nos dias atuais: ele assume que o estudante aprenderá passivamente. Isto acaba provocando distorções no processo, pois as teorias contemporâneas da aprendizagem há tempos oferecem evidências de que as pessoas aprendem melhor se estiverem interagindo e usando a linguagem (ou seja, falando, escrevendo, criando), ao invés de apenas escutando. O resultado disso é que nossos alunos estudam para passar na prova e, consequentemente, passar de ano, e não porque enxergam valor genuíno no que está sendo proposto para eles aprenderem.

Muitos educadores e gestores do setor educacional compartilham desta visão, e talvez seja por isso que as iniciativas de inovação na educação têm crescido, apesar de a maioria delas não gerar os resultados esperados. Na nossa visão, isto ocorre porque elas não têm sido atreladas ao processo pedagógico propriamente dito, que é o que dá origem à aprendizagem, objetivo final da educação. Simplesmente colocar computadores na sala de aula, ou utilizar aplicativos para os estudantes resolverem exercícios, ou criar disciplinas “inovadoras” não necessariamente modifica a experiência de aprendizagem dos alunos. Quando falamos em inovação pedagógica, nos referimos justamente a inovações que tragam melhorias e gerem valor para o processo de aprendizagem em si. Um quadro interativo ou uma disciplina de robótica  pode tornar uma aula mais dinâmica e divertida, mas não necessariamente irá melhorar a forma como os estudantes aprendem. É por isso que, aqui na Escola Hub, nossos esforços são para produzir inovações pedagógicas, que motivem, engajem e empoderem os estudantes.

A Escola Hub nasceu de reflexões e estudos constantes sobre o processo de aprendizagem e de como podemos modificar o sistema para torná-lo mais relevante para estudantes, professores e sociedade. Assim, estamos vivenciamos mudanças fomentadas pela inovação pedagógica.

Mas como funciona a Escola Hub?

Bom, pra começar, achamos fundamental dizer que na Escola Hub:

1- Não existem mais tempos de disciplinas seriados. A matriz curricular, que segue a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), é desenhada toda de forma interdisciplinar. Ou seja, não existem mais 50 minutos de matemática, 50 minutos de Português e etc. Existem a realização dos projetos, onde os educadores das disciplinas orientam em conjunto um mesmo projeto, fazendo os estudantes aprenderem o conteúdo de forma real.

2- Não existem mais provas. Também não há mais provas que nada provam, e sim avaliações verdadeiramente formativas.

3- Não existem mais aulas tradicionais. Todo aprendizado acontece através de projetos reais.

4- Não existem mais carteiras enfileiradas. A sala de aula já não é mais um conjunto de carteiras enfileiradas, mas um ambiente estimulante de colaboração e realização de projetos.

5- Não há mais estímulo à passividade dos estudantes. Os estudantes têm liberdade para buscar seus interesses, curiosidades e paixões, ao invés de serem passivos as escolhas de alguém.

6- Não há mais incentivo à decoreba. E por fim, são estimulados a aprender a aprender, e não mais a decorar.

 Os resultados que estamos colhendo chamam bastante atenção: os estudantes não faltam mais às aulas; são muito felizes no ambiente escolar (é comum o estudante chorar quando precisa faltar à aula); demonstram níveis de reflexão crítica superior; desenvolvem, em um curto espaço de tempo, uma autonomia pedagógica nunca observada, desenvolvem projetos que resolvem problemas da sociedade; descobrem o prazer de trabalhar em equipe e de forma colaborativa.

Como conseguimos realizar tudo isso?

Tudo isso só é possível porque, ao longo desse processo, muitas reflexões são feitas, muita pesquisa com estudantes, famílias e docentes são realizadas e muitos estudos são acessados para permitir melhorias na experiência de aprendizagem.

Quando se estabelece o foco na inovação pedagógica, desenhar melhorias para a aprendizagem do estudante torna-se a prioridade.

Mas afinal, o que é inovação pedagógica?

Inovação é, ao mesmo tempo, um processo e um resultado. É um processo pois consiste na identificação de uma oportunidade ou problema que possa ser respondida com a invenção/criação de algo novo, como uma técnica, produto, serviço ou tecnologia. É um resultado pois tal invenção/criação deve gerar valor para consumidores e para a sociedade quando estiver pronta para ser utilizada. Portanto, também podemos definir inovação como uma invenção/criação que gera valor para a sociedade.

Pedagogia é uma ciência, que tem como objeto de estudo o processo de ensino-aprendizagem, e as dimensões envolvidas nele, como técnicas, métodos, pessoas e contextos.

Para nós a inovação pedagógica pode ser definida como a invenção/criação de melhorias e/ou transformações do processo de aprendizagem, que gerem valor para estudantes, professores e sociedade como um todo.

Esta definição ajuda na compreensão da diferença entre inovação educacional e inovação pedagógica. Educação é um termo mais amplo, que dá conta de aspectos que extrapolam o processo da aprendizagem em si. Na inovação pedagógica o foco reside na criação de técnicas e tecnologias (não necessariamente apenas digitais) que geram valor direto para a aprendizagem.

Para onde iremos?

Nos últimos anos assistimos a viralização de vídeos e textos nas mídias sociais demonstrando o gigantesco número de inovações em diversas categorias de produtos e serviços, enquanto a escola e a sala de aula permaneciam as mesmas desde o século XIX.

Apesar do consenso em torno dos argumentos que estes conteúdos apresentam, e da natural indignação que caracteriza os comentários e compartilhamentos dos mesmos, as soluções, ou caminhos para se mudar o cenário da educação, não costumam ser apresentados ou discutidos.

Bate-se sempre na mesma tecla: melhorar a qualidade dos professores, oferecer infraestrutura adequada às escolas, investir em tecnologias para a sala de aula.

Podemos fazer tudo isso, mas sem necessariamente mudar o cenário: carteiras enfileiradas, estudantes em silêncio, acuados e orientados à copiar e anotar as ideias de um professor, que, de pé, comandando a sala de aula do alto de sua hierarquia, narrando conteúdos no ritmo do seu relógio, e que ameaça os alunos com os riscos que a prova pode oferecer no final do ano ou do semestre.

Não se discute a aprendizagem. Não se discute inovações que possam oferecer aos estudantes e professores uma nova experiência de aprendizagem, mais adequada, coerente e sincronizada com o momento sócio-histórico em que vivemos.

É por isso que acreditamos na inovação pedagógica. Enxergamos nela um caminho potente para melhorar a educação. Mas por quê?

Porque, inventar/criar elementos que tragam novos valores para a aprendizagem significa que estamos deslocando o foco da educação para o que realmente importa: os alunos não se sentirão motivados a estudar por causa da prova, ou para obter seus diplomas, mas sim porque enxergam valor naquilo estão aprendendo; não irão dedicar tempo às tarefas e projetos por estarem sendo obrigados a isso por seus professores e familiares, mas sim porque estarão enxergando significado e sentido em tudo o que aprendem.

As escolas deveriam criar áreas de inovação pedagógica. Somente reunindo profissionais de diferentes áreas do conhecimento, como arquitetos, pedagogos, designers, desenvolvedores, entre outros, 100% dedicados a estudar e investigar a experiência de aprendizagem dos estudantes, será possível engajá-los para aprender de forma prazerosa e efetiva.

Tudo acaba por aqui?

Certamente não. A escola deve ser um ambiente em constante atualização e alinhada com as mais recentes pesquisas das teorias contemporâneas da aprendizagem e, de forma geral, com as mudanças do mundo.O Brasil pode ser o país da educação. Só depende de nós ajudar nossos alunos a serem os estudantes mais felizes do mundo.

 

Por Thiago Almeida

Fundador e CEO da Escola Hub, trabalho com minha equipe para transformar a educação. Doutor em Administração pelo Instituto COPPEAD / UFRJ, Mestre em Administração pelo IAG – PUC Rio e Bacharel em Administração pela ESPM. Sou Professor Associado da Fundação Dom Cabral e fui Diretor de Inovação Pedagógica do Centro Universitário Celso Lisboa, Professor da graduação e Pós-graduação da ESPM, IBMEC Rio e UFJF. Atuei como Coordenador de Novos Negócios da L’ORÉAL Brasil e Marketing da L’ORÉAL França.

plugins premium WordPress
Loading...