Paramos a língua, recortamos um pedaço e a estudamos como se fosse estática. Repetimos ao som do estalar de dedos dos professores dos cursinhos. Escutamos áudios preparados e mecânicos e não conseguimos interagir com uma fala real.
Não tivemos tempo de nos acostumarmos a sons estranhos à nossa língua e fomos corrigidos de forma constrangedora na primeira tentativa de pronúncia. Não nos arriscamos mais, nos calamos. Desejamos um ideal de perfeição de proficiência dentro dos padrões americanos ou britânicos, desconsiderando outras realidades da língua inglesa pelo mundo.
Em uma turma, poucos foram aqueles que se adaptaram às metodologias e se destacaram nas provas de preencher lacunas em frases aleatórias e descontextualizadas.
No final do processo, ficamos passivos, muitos de nós não soubemos nos comunicar na outra língua. Não tivemos segurança, não tivemos oportunidade de relacionar o conhecimento adquirido com situações reais da vida.
Não raro, adultos perdem oportunidades acadêmicas e profissionais e se dizem traumatizados com inglês.
A questão aqui não é culpar os professores, o caminho percorrido pelos estudiosos da língua ou a evolução das metodologias.
Mas o mundo continua mudando e rápido. Assim, precisamos estar atentos às novas necessidades do contexto em que vivemos.
Precisamos buscar não apenas o valor acadêmico e profissional em saber uma segunda língua, pois isso será consequência de se ter formado um bom comunicador. Precisamos resgatar o valor sociocultural e do bem pessoal, e assim, abrir portas para o pensar e agir em um mundo globalizado nas mais variadas situações sociais.
Experiência de uso real, que faça sentido no cotidiano. Sem deixar o inglês guardado e esquecido dentro da sala da teacher. Valorizar cada passo no processo, na confiança de que tudo leva tempo, ao contrário do que dizem as promessas das propagandas.
Respeitar o processo e não projetar nossas ansiedades por produções completas e gramaticalmente corretas imediatas. Ressignificar o que chamamos de erro. Deixarmos que a experiência de conhecer essa nova língua seja agradável, motivadora e saudável.
Sem forçar que as crianças decorem frases e cantem músicas sem que elas sequer compreendam o que estão dizendo, mas esperar seu tempo para que estejam preparadas para usar a língua de forma espontânea. Que elas tenham oportunidades de transitar entre as duas línguas em ambientes de fato bilíngues, de forma mais natural possível.
Língua é viva e orgânica, meio através do qual se aprende, não uma matéria estática.
Desejamos acima de tudo que seja apenas uma segunda língua e não uma língua estrangeira, ou seja, estranha, do outro. Mas uma língua que também é apropriada por mim, apenas minha segunda língua.
Tenhamos carinho e paciência com o processo das nossas crianças, e, acima de tudo, confiança no processo.
Por Bárbara Andrade
Coordenadora Bilíngue da Escola Hub e educadora de línguas da Hub Bom Pastor